sábado, 12 de maio de 2012

Eu não possuo...




"Olho em volta de mim. Todos possuem - 
Um afecto, um sorriso ou um abraço. 
Só para mim as ânsias se diluem 
E não possuo mesmo quando enlaço. 

Roça por mim, em longe, a teoria 
Dos espasmos golfados ruivamente; 
São êxtases da côr que eu fremiria, 
Mas a minh'alma pára e não os sente! 

Quero sentir. Não sei... perco-me todo... 
Não posso afeiçoar-me nem ser eu: 
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu, 
Falta-me unção pra me afundar no lôdo. 

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser 
Forçoso me era antes possuir 
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher, 
E eu não logro nunca possuir!... 

Castrado de alma e sem saber fixar-me, 
Tarde a tarde na minha dor me afundo... 
Serei um emigrado doutro mundo 
Que nem na minha dor posso encontrar-me?... "

Mário de Sá-Carneiro




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