sábado, 29 de janeiro de 2011

Cansaço

"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada: assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço..."
Fernando Pessoa

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sem palavras

"Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer.
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada. "
Fernando Pessoa

domingo, 16 de janeiro de 2011

A natureza sempre foi cúmplice do meu silêncio

"Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz. ...
Deixa-me ser feliz assim,
Já tão longe de ti como de mim." Miguel Torga

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Rememorando nossas maresias

"Para sempre é muito tempo. O tempo não pára!
Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo."
Mario Quintana

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Não posso

"Não posso adiar o amor para outro século
não posso ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite
e arda sob as montanhas cinzentas e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar ainda que a noite pese séculos
sobre as costas e a aurora indecisa demore n
ão posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração."
António Ramos Rosa