sábado, 27 de março de 2010

Herança

"Aqui está minha vida. Esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento. Aqui está minha voz, esta concha vazia, sombra de som curtindo seu próprio lamento Aqui está minha dor, este coral quebrado, sobrevivendo ao seu patético momento. Aqui está minha herança, este mar solitário que de um lado era amor e, de outro, esquecimento." Cecília Meireles

segunda-feira, 22 de março de 2010

Acasos

"Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada. Essa é a maior responsabilidade de nossa vida, e a prova de que duas almas não se encontram ao acaso. " Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 21 de março de 2010

Sou

"Sou uma filha da natureza: quero pegar, sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou uma só... Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo." Clarice Lispector

sexta-feira, 5 de março de 2010

Avessos nossos

"Somos o avesso um do outro.
Quando duvidas, paras, e eu sigo em frente.
Quando tens medo, eu tenho vontade;
quando sonhas, eu pego nos teus sonhos e torno-os realidade,
quando te entristeces, fechas-te numa concha e eu choro para o mundo;
quando não sabes o que queres, esperas e eu escolho;
quando alguém te empurra, tu foges e eu deixo-me ir. Somos o avesso um do outro: iguais por fora, o contrário por dentro.
Tu proteges-me, acalmas-me, ouves-me e ajudas-me a parar.
Eu puxo por ti, sacudo-te e ajudo-te a avançar.
Como duas metades teimosas, vivemos de costas voltadas um para o outro,
eu sempre à espera que tu te vires e me abraces,
e tu sempre à espera que a vida te traga um sinal,
te aponte um caminho e escolha por ti o que não és capaz."
Margarida Rebelo Pinto

terça-feira, 2 de março de 2010

Mistérios da vida

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco
e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda