sábado, 28 de abril de 2012

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“Certa manhã, após tantos desesperos, uma irreprimível vontade de viver virá anunciar-nos que tudo acabou e que o sofrimento não possui mais sentido do que a felicidade.”

Albert Camus



terça-feira, 24 de abril de 2012

Não Te Deixarei Morrer



E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter. Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água do rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogamos o seu sentido. Nisto eu acredito: na verdade destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos. (…)
Porque nada é mais íntimo e mais indestrutível do que o silêncio partilhado. Tudo o resto são apenas palavras, sons, frases, coisas que qualquer um pode dizer. (...) Mas o silêncio fica porque nunca mente, porque é tão íntimo que não pode ser representado, é tão envolvente que não pode ser rasgado. (...) Nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrem os pensamentos vividos em silêncio. Um amor feliz precisa do turbilhão das palavras, das frases aparentemente inúteis e sem sentido, precisa de adjectivos, de elogios, do ruído das banalidades. Não há felicidade que não seja tantas vezes fútil, tantas vezes inútil.

Miguel Sousa Tavares, in 'Não Te Deixarei Morrer, David Crockett '

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dia Mundial do Livro


"De toda a minha literatura, você é a minha melhor página." 
Martha Medeiros 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

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"Eu sou um ser totalmente passional.Sou movida pela emoção, pela paixão...tenho meus desatinos...Detesto coisas mais ou menos...Não sei conviver com pessoas mais ou menos...Não sei amar mais ou menos...Não me entrego de forma mais ou menos...Se você procura alguém coerente, sensata, politicamente correta, racional, cheia de moralismo... Esqueça-me!"
Clarice Lispector

sábado, 7 de abril de 2012

Nesta casa de água...



Construí uma casa no mar.
Com portal para o vento e um terraço onde escuto o grito do albatroz
ou recolho o pólen das estrelas.
Plantei nas ondas uma árvore. São peixes
as pequeníssimas folhas desta árvore
que sinto crescer como um amigo.
Todos os móveis da casa são de água. Densa,
vermelha, filha de um vulcão,
ou leve, clara, irmã do linho.
Os tapetes têm a cor de antigos versos que elogiam o mar.
Canções, odes, barcarolas. De um tempo
em que o sol emprenhava as corças numa cama de folhas
e onde agora é deserto.
Nesta casa de água, escrevo. E, para o teu poema,
lanço a minha rede. Nela vêm, doirados, ofegantes, vivos,
os cardumes de sílabas.
Joaquim Pessoa