quarta-feira, 30 de maio de 2012

...



"Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir"

Amyr Klink

domingo, 27 de maio de 2012

Azul




«... A tarde talvez fosse azul não houvesse tantos desejos ...»
Carlos Drummond de Andrade

Gestos





"Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve,
para que venhas comigo e eu para sempre te leve..."
Cecília Meireles



sexta-feira, 25 de maio de 2012

Aroma


"...as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração - ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas."
O perfume, de Patrick Süskind.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quando eu for grande...


"Quando eu for grande quero ser 
Um bichinho pequenino 
P´ra me poder aquecer 
Na mão de qualquer menino 


Quando eu for grande quero ser 
Mais pequeno que uma noz 
P´ra tudo o que eu sou caber 
Na mão de qualquer de vós 


Quando eu for grande quero ser 
Uma laje de granito 
Tudo em mim se pode erguer 
Quando me pisam não grito 


Quando eu for grande quero ser 
Uma pedra do asfalto 
O que lá estou a fazer 
Só se nota quando falto 


Quando eu for grande quero ser 
Ponte de uma a outra margem 
Para unir sem escolher 
E servir só de passagem 


Quando eu for grande quero ser 
Como o rio dessa ponte 
Nunca parar de correr 
Sem nunca esquecer a fonte 


Quando eu for grande quero ser 
Um bichinho pequenino 
Quando eu for grande quero ser 
Mais pequeno que uma noz 


Quando eu for grande quero ser 
Uma laje de granito 
Quando eu for grande quero ser 
Uma pedra do asfalto 


Quando eu for grande... 
Quando eu for grande... 


Quando eu for grande quero ter 
O tamanho que não tenho 
P´ra nunca deixar de ser 
Do meu exacto tamanho"
José Mário Branco

Amores Perfeitos




“Sempre olhei para os jardins com doçura e gratidão. Eles são as minhas aldeias. São sossegados. Só nos jardins há amores perfeitos.” 
Álvaro Moreyra

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Eu gosto...



"Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram." 

sábado, 19 de maio de 2012

As casas também morrem

Entro sem ser convidada. Piso delicadamente cada tábua e vivo  uma vida que não é a minha.


Apenas o meu olhar toca em cada memória sem interferir nas alegrias, nem nas tristezas que não me pertencem.




Cheiros? Só os da ausência.


Ouço o ranger dos passos que me perseguem. O coração desassossega, há um ontem que dói, e é no vazio da minha voz que me atrevo a  libertar a solidão do tempo.





A vida é sem dúvida um espaço. Aqui e ali  vão caindo fragmentos  do passado que já ninguém quer. 



A janela, ilumina lugares vazios cheios de presença. As camas , a intimidade que já foi amor.



Hoje os sonhos... são apenas pesadelos.




Bem devagar, percorro cada segredo...




 cada passo que não chegou a sê-lo. 


A casa ainda respira …


saio em silêncio para a manhã fria. E...


nesse preciso momento, ouço o último suspiro.













sexta-feira, 18 de maio de 2012

Num banco de jardim





"Num banco de jardim uma velhinha
está tão só com a sombrinha
que é o seu pano de fundo.
Num banco de jardim uma velhinha
está sozinha, não há coisa
mais triste neste mundo.
E apenas faz ternura, não faz pena,
não faz dó,
pois tem no rosto um resto de frescura.
Já coseu alpergatas e
bandeiras verdadeiras.
Amargou a pobreza até ao fundo.
Dos ossos fez as mesas e as cadeiras,
as maneiras
que a fazem estar sentada sobre o mundo.
Neste jardim ela
à trepadeira das canseiras
das rugas onde o tempo
é mais profundo.
Num banco de jardim uma velhinha
nunca mais estará sozinha,
o futuro está com ela,
e abrindo ao sol o negro da
sombrinha poidinha,
o sol vem namorá-la da janela.
Se essa velhinha fosse
a mãe que eu quero,
a mãe que eu tinha,
não havia no mundo outra mais bela.
Num banco de jardim uma velhinha
faz desenhos nas pedrinhas
que, afinal, são como eu.
Sabe que as dores que tem também são minhas,
são moinhas do filho a desbravar que Deus lhe deu.
E, em volta do seu banco, os
malmequeres e as andorinhas
provam que a minha mãe nunca morreu."

Ary dos Santos

Tempo ao Tempo







"Costuma-se dizer: "demos tempo ao tempo".
Mas aquilo que sempre nos esquecemos de perguntar é, 
se haverá tempo para dar."


José Saramago

quinta-feira, 17 de maio de 2012

...chora na estrada...



‎"A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim."

Fernando Pessoa















Precisa-se de um Amigo




"Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração.
Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de
madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da
brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não
ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam
consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. 


Não é preciso que seja de primeira mão, nem é
imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos
os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo
impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no
caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter
ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir
pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve
gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. 


Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos,
que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples,
de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de
um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste
durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve
gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de
estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. 


Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena
viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de
um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em
busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas
que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive."


Vinícius de Moraes

terça-feira, 15 de maio de 2012

Como somos...




Como somos crianças! Que valor damos a um olhar! Ah! Como somos crianças."

Goethe

sábado, 12 de maio de 2012

Eu não possuo...




"Olho em volta de mim. Todos possuem - 
Um afecto, um sorriso ou um abraço. 
Só para mim as ânsias se diluem 
E não possuo mesmo quando enlaço. 

Roça por mim, em longe, a teoria 
Dos espasmos golfados ruivamente; 
São êxtases da côr que eu fremiria, 
Mas a minh'alma pára e não os sente! 

Quero sentir. Não sei... perco-me todo... 
Não posso afeiçoar-me nem ser eu: 
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu, 
Falta-me unção pra me afundar no lôdo. 

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser 
Forçoso me era antes possuir 
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher, 
E eu não logro nunca possuir!... 

Castrado de alma e sem saber fixar-me, 
Tarde a tarde na minha dor me afundo... 
Serei um emigrado doutro mundo 
Que nem na minha dor posso encontrar-me?... "

Mário de Sá-Carneiro




E assim...fechei mais um livro.


Instruções para salvar o mundo . Rosa Montero

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Passos...



"Então você está confusa com seus sentimentos. Ele apareceu tão de repente na sua vida, com aquele brilho manso no olhar, com aquela meiguice na voz, sem pedir coisa alguma, meio como um Pequeno Príncipe caído de um asteróide. A princípio você nada percebeu de diferente. O susto veio quando você se lembrou das palavras da raposa, explicando ao Pequeno Príncipe o que era ficar cativo: É assim. A princípio você senta lá e eu aqui. Depois a gente vai ficando cada vez mais perto. Os passos de todos os homens me fazem entrar dentro da minha toca. Mas os seus passos me fazem sair."

Antoine de Saint-Exupéry

domingo, 6 de maio de 2012

Mãe...


"... mãe, eu sei que ainda guardas mil estrelas no colo.
eu, tantas vezes, ainda acredito que mil estrelas são
todas as estrelas que existem."

José Luís Peixoto

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A minha gaivota






"O jardim tem aquele cheiro a relva que nos seduz e nos lembra os jogos de bola e os namoros de adolescência. Encontrei-a sentada no banco de madeira, iluminada pelo tremeluzir de luzes que vinham dos altos - raios de sol que se esgueiravam pelo entrelaçado das copas das árvores. Lia o livro. Sentei-me a seu lado com um sorriso. Será que está mesmo a ler, perguntei-me. Como que em jeito de resposta, ela apontou para uma das páginas e passou os dedos por uma frase: «…uma gaivota é uma ideia ilimitada de liberdade». Será que ela já entende os conceitos de liberdade? - «… e todo o vosso corpo, desde a ponta de uma asa até à outra, não é mais que o vosso próprio pensamento», sublinhou com o dedo. Creio que entende. A sua parte racional recomeça a funcionar, resta-lhe agora resgatar as emoções. Esta certeza fez assomar uma lágrima no canto dos meus olhos, dei-lhe um beijo na testa e sussurrei para ela:
-És a minha Gaivota!

  ... Ela olhou para mim, limpou-me a lágrima com a ponta dos dedos, mas manteve o rosto sereno, sem expressar emoções. -Agora és a minha Gaivota! Vais aprender a voar de novo!», repeti, e dei-lhe a minha maçã." ...

João Morgado
Excerto de Diário dos Imperfeitos

Fica mais um sempre...



“Ouço cair o tempo, gota a gota, e nenhuma gota que cai se ouve cair.”

Fernando Pessoa

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Nódoas Negras



«...és o meu amor plural, porque te amei de muitas formas. Até da forma mais cruel, que é amar alguém na distância. A saudade de alguém que se ama é um polígono de muitos lados, em que o nosso corpo se magoa constantemente nas arestas, e vive marcado de nódoas negras a que chamamos sombras da tristeza…»
João Morgado